Economia de dados, economia da atenção, economia comportamental. Podemos dizer que, em todas elas, é o comportamento que possibilita o lucro e a acumulação de capital. Segundo Daniel Black, professor da Universidade de Monash, da Austrália, na economia comportamental o comportamento é a base das ações de empresas e corporações big tech, como Google e Meta. No artigo publicado no The Information Society: an journal international, o professor diz que os engenheiros da Google veem no comportamento o seu estoque de comércio, uma vez que possibilita a predição, modificação, monetização e controle da experiência humana.

Imagem gerada por inteligência artificial generativa utilizando palavras-chave: vigilância, comportamento, big techs e sul global
Com base em Black, é possível interpretar que existam diferentes formas pelas quais as empresas agem a partir dos dados comportamentais dos usuários. Embora não explicitamente categorizadas por ele, poderíamos identificar pelo menos três ações principais: (1) criação e oferta de produtos ou serviços, (2) estratégias para garantir maior tempo e permanência no ambiente online, e (3) modificação ou reforço de novos padrões comportamentais nos usuários.
De acordo com o autor, a atuação de empresas como o Google encontram-se diretamente apoiadas na teoria behaviorista de B. F. Skinner, que via o comportamento como a probabilidade de ações particulares serem analisadas e controladas através de alterações e estímulos do ambiente. Nesse sentido, a empresa, com as práticas de direcionamento de anúncios e conteúdos aos usuários, teria feito nada mais nada menos do que a aplicação desse conhecimento em sua plataforma.
“O behaviorismo alegava que o comportamento humano poderia ser previsivelmente e confiavelmente influenciado por mudanças em estímulos ambientais, e assim seus princípios passaram a ser aplicados em prisões, escolas e reformatórios, e instituições para doentes mentais e deficientes.”
A relação entre a atuação das empresas Google e Meta com o behaviorismo também foi identificada pela professora Shoshana Zuboff no livro A Era do Capitalismo de Vigilância. Na obra, Zuboff critica reativação das ideias de Skinner, que haviam sido fortemente criticadas na década de 1970. No auge de sua fama, Skinner também conviveu com duras críticas, tanto de seus pares, bem como de membros do governo e de congressistas. Havia um temor que as “mudanças comportamentais” pudessem atingir liberdades civis e individuais.
Nos dias de hoje, as técnicas de reforço positivo e estímulos no ambiente são usadas pelas big techs para influenciar o consumo e práticas dos seus usuários, considerando os interesses dos anunciantes, que podem ser momentâneos e variam ao longo do tempo. Black ressalta que o o paradigma comportamentalista adotado por empresas como Google se destaca pela criação de comportamentos de consumo, que são só possíveis a partir de sistemas de vigilância que coletam dados de ações realizadas no ambiente online.
Para ler o artigo: https://doi.org/10.1080/01972243.2024.2342791

Esta nota faz parte do projeto “Inteligência Artificial e Capitalismo de Vigilância no Sul Global”, financiado pela Rede Latino-Americana de Estudos sobre Vigilância, Tecnologia e Sociedade e realizado pelo Labjor - Unicamp | Laboratório de Estudos Avançados em Jornalismo