O que é o diaspora*? (e por quê ele não morreu e tem uma baita importância)

por Rafael Evangelista em 8 de março de 2014, Comentários desativados em O que é o diaspora*? (e por quê ele não morreu e tem uma baita importância)

Pra responder de chofre à pergunta do título: diaspora* é uma rede social, com nós distribuídos, feita e licenciada com software livre.

Mas essa resposta curta é insuficiente pra dimensionar a importância de um projeto desses (que não é o único, olha lá no fim do texto) e pra fazer frente ao amontoado de matérias bobocas que tratam da história do projeto como fofoca (não vou linkar, busquem aí que vocês encontram. melhor, conto a fofoca: o projeto estava no kickstarter; arrecadou 200 mil doletas; muita expectativa foi gerada porque ele “derrubaria o Facebook”; um dos garotos fundadores do projeto se matou; os fundadores partiram para outro projeto).

Mas a beleza da coisa – e sua força – é que nada disso é importante. Como se trata de um projeto em software livre, ele não morre. Se a comunidade o abraça, se um grupo de malucos acredita na sua importância, eles continuam trabalhando no código e permitem sua sobrevivência e bola pra frente. Vou explicar melhor.

diaspora* é uma rede social. Funciona como o Facebook, ou como funcionava o Orkut, você adiciona pessoas que também se cadastraram, que fizeram uma fichinha lá, e compartilha seus vídeos, insights, dá joinhas (no caso coraçõeszinhos s2), platitudes, indignações etc.

Mas o diaspora* é descentralizado. Isso quer dizer que você não preenche essa fichinha num servidor central, você faz o seu cadastro em um dos chamados “pod”. Pods são as diversas instalações do diaspora*. Por exemplo, no estou registrado como r_evangelista@joindiaspora.com. Joindiaspora.com é o meu pod, é o servidor que usei pra fazer o meu cadastro. Isso não quer dizer que eu só converso com as pessoas que estão no mesmo pod que eu, ele é só uma referência. Na rede, todos falamos com todos.

Aqui uma lista de pods do diaspora*: http://podupti.me/

E a ideia é que qualquer um possa ter um pod. Individualmente isso pode ser difícil, manter um servidor e tal, mas há pods públicos e organizações e movimentos sociais são ótimos candidatos a hospedeiros de pods. Escolher um bom pod é crucial, pois isso vai pesar na sua velocidade de acesso e garantir que seu perfil não “suma” (hoje é possível baixar todos os dados de seu perfil que você subiu, mas subir isso de novo é uma funcionalidade que não está pronta).

Você pode pensar: “cara, que saco, tenho que me preocupar com isso”. Isso é independência, autonomia. É justamente a falta disso que criticamos em projetos como o do MarkZuck, que centraliza os dados, não é nada transparente e vende nossas interações e produções por aí. Isso quando não manda tudo direto pro escaninho da NSA.

Aliás, ATENÇÃO SOCIAL MEDIAS E BLOGUEIROS, uma outra beleza do software livre. De uns anos pra cá todo mundo começou utilizar o Facebook como a grande ferramenta de distribuição ou mesmo a migrar suas produções pra lá. No começo era tudo lindo, você postava os bagulho, ele distribuía pra quem te deu joinha e nem te dava trabalho administrar os comentários, que ficavam por lá mesmo.

Só que, faz uns meses, a teta começou a secar. Em lugar de distribuir os conteúdos para todos os seus assinantes o Facebook começou a controlar isso e a cobrar pra que esse conteúdo tivesse distribuição maciça. Mesmo pessoas físicas, indivíduos, começaram a ver seus posts atingirem só uma parte dos amigos, enredados no algoritmo fechado de distribuição do MarkZuck, que limita as interações as amigos com quem você usualmente tem mais contato.

Bom, essa treta toda não rola em redes livres. Isso porque o código não é controlado comercialmente, ele é aberto e livre, você pode entender como essa mensagem está sendo distribuída. Então, se você é um blogueiro, uma organização ou uma empresa, pode estar certo que você vai saber como e quando essa mensagem chega a seus seguidores.

Livre

Quando os garotos criaram o projeto eles usaram a AGPLv3 que é das licenças mais bacanas do software livre. Isso porque qualquer pessoa ou grupo de pessoas pode pegar esse código, olhar como funciona, melhorá-lo e botá-lo no mundo de novo. Por isso o diaspora* não morreu e não vai morrer enquanto não houver gente que goste dele. Isso está nas regras, na licença, a única obrigação imposta pela AGPL é que, assim que você colocar publicamente a sua versão melhorada do software você não impeça outros de pegarem a sua versão, usarem como entenderem eventualmente a melhorarem também.

O diaspora* não é perfeito, longe disso, tá cheio de arestas e faltam coisas. A questão da impossibilidade de fazer o upload do seu perfil em um novo pod é um exemplo. Mas, quando se trata de um projeto assim, é só o uso que vai produzir a melhoria do software. Mais gente na rede, mais usuários, mais desenvolvedores interessados em melhorar e produzir coisas pra essa plataforma pública.

Redes federadas

Fui bem injusto neste texto porque falei do diaspora* desde o começo e deixei pra falar do Noosfero no final. Enquanto o diaspora* era só uma ideia louca na cabeça de uns gringos, uns brasileiros muito ponta firme já estavam fazendo praticamente a mesma coisa e desenvolvendo uma rede social livre que hoje é usada por milhares de pessoas, principalmente por organizações sociais. Tô falando do Noosfero. Aqui um trecho de uma matéria que escrevi sobre os caras lá em 2010:

Que tal ter um Facebook ou um Orkut só pra você, tendo controle total dos dados que são trocados e garantindo a privacidade dos usuários? Sua empresa ou sua ONG trocando informações tendo assegurado o sigilo e podendo fazer buscas que mostram de que os usuários mais gostam, quais suas preferências ou afinidades? Isso é possível com o Noosfero, rede social utilizada pelo Fórum Internacional de Software Livre e desenvolvido pela cooperativa Colivre. Como o Noosfero é livre, qualquer um pode baixar e instalar onde quiser, montando uma rede social particular, mas aberta à interação com outros sistemas.

Segundo Vicente Aguiar, gestor de projetos da Colivre, a concepção do Noosfero veio de uma perspectiva política, em que é importante manter a internet livre. “As soluções proprietárias em rede social, como Facebook e Orkut, ao se disseminarem, obstaculizam o avanço e a manutenção de uma  internet livre. O projeto dessas empresas não é que você acesse à internet em sua diversidade, mas se concentre nas soluções proprietárias, que se navegue nos ambientes dessas empresas. É um projeto de expansão monopolista da internet. ‘Use Facebook, use Google’, é o conceito de software proprietário aplicado à internet.”

Para os movimentos sociais, em particular, isso seria particularmente mais nocivo. “Você não sabe como esses sistemas sociais são feitos, se os dados são rastreados ou não, quem está ganhando dinheiro em cima do conhecimento de suas preferências.” Ele enfatiza também as vantagens para os usuários comuns: “Você não é submetido àquelas propagandas indesejáveis”. Um governo poderia usar os dados para melhorar as políticas públicas.

Uns parágrafos depois, lá no final da matéria, comento que no horizonte dos caras estaria o que seria um salto gigantesco para uma internet livre: a integração entre as redes sociais livres. Para que uma se comunicasse com a outra, para que o diaspora* falasse com o Noosfero, que falasse com o n-1, que falasse com o Saravea. Infelizmente, essa coisa ainda engatinha. Só que isso não pode ser um obstáculo, todo usuário a mais em uma rede livre é um empurrão pra frente, é um estímulo a que mais gente busque e troque conteúdo em ambientes não proprietários, que tendem a se integrar em federações de redes que querem se falar.

À luta companheiros, as fotos de bichinhos fofos farão a revolução.

A grande partida de Pokemon

por T. C. Soares em 21 de fevereiro de 2014, Comentários desativados em A grande partida de Pokemon

Há neste momento um lugar da internet onde muitas pessoas disputam simultaneamente uma mesma partida de Pokemon.

A ideia partiu de uma coisa razoavelmente simples. Um computador processa um jogo de Game Boy ligado ao Twitch (um serviço de vídeo para streaming de partidas de videogame em tempo real, com comentários), e um software transforma a audiência do Twitch no jogador da partida. O experimento se chama Twitch Plays Pokemon, e funciona assim: o computador com o emulador de Game Boy roda uma partida de Pokemon vinte e quatro horas por dia, que é transmitida ao vivo no Twitch, que tem sua caixa de comentários tornada uma espécie de joystick a partir de um software que processa os comandos escritos pelo público e os transforma em direções para o avatar do jogo. Por exemplo, a audiência comenta “direita”, ou “esquerda”, ou “botão a”, ou “start”, e o sistema processa o todo dessas informações, o que é transformado em ações dentro do jogo (os comandos, em inglês, são predeterminados).

É verdade que boa parte do resultado disso tem a ver o personagem do jogo andando em círculos, indeciso, capturando e distribuindo pokemons numa jornada sem muito sentido. Mas a partida prossegue com resultados satisfatórios apesar de tudo, e em algum lugar no meio do caos seu protagonista tem conseguido vencer chefes de fase e avançar rumo ao fim da partida.

O criador do experimento é um programador australiano anônimo, e estaria realmente surpreso com o universo de participação em torno do projeto. O que é compreensível – quando tentei ajudar o pequeno avatar a fazer novos amigos e vencer sua grande jornada rumo ao panteão dos treinadores de pokemons, dividi o controle do joystick com pouco mais de oitenta mil pessoas, e todo mundo parecia ter alguma opinião bastante forte sobre qual seria o melhor próximo passo. Mas o entusiasmo sobre o experimento, com sua aura de amostra grátis do poder da web e das novas tecnologias de comunicação para a emergência da sabedoria das multidões, não é uma iniciativa especialmente nova.

***

Em 1991, numa convenção de especialistas em computação gráfica realizada nos EUA, um experimento meio parecido foi colocado em ação. Kevin Kelly, um dos caras que inventaram a cultura do Vale do Silício, registrou o evento mais ou menos assim (a tradução é minha, e o trecho é meio longo):

Em uma sala de conferências escurecida de Las Vegas, uma audiência animada acena com bastões de papelão no ar. Cada bastão é vermelho de um lado e verde do outro. De longe, na parte de trás do enorme auditório, uma câmera analisa os participantes frenéticos. Uma câmera de vídeo liga as manchas coloridas dos bastões a computadores programados pelo mago dos efeitos visuais Loren Carpenter. O software personalizado de Carpenter localiza cada bastão vermelho e verde no auditório. Na noite de hoje, há pouco menos de cinco mil participantes. O computador exibe a localização exata de cada bastão (e sua cor) em um imenso mapa, detalhado em um vídeo na frente do palco, que todos podem ver. Mais importante, o computador conta o total de bastões vermelhos ou verdes, e usa esse valor para controlar o software. Conforme o público agita os bastões, a tela mostra um mar de luzes dançando loucamente no escuro, como um desfile punk à luz de velas. Os espectadores se veem no mapa – eles são ou um pixel vermelho ou verde. Mexendo seus bastões, podem mudar instantaneamente a cor de seus pixels projetados.

Loren Carpenter dá início a um antigo jogo de Pong na tela imensa. Pong foi o primeiro videogame comercial a tocar a consciência pop. É um arranjo minimalista: um ponto branco quica dentro de um quadrado, com dois retângulos móveis em cada ato lado como raquetes virtuais. Em suma, ping-pong eletrônico. Nesta versão, mostrando o lado vermelho de seu bastão você move a raquete para cima. Verde, para baixo. Mais precisamente, a raquete de Pong se move conforme o número de bastões vermelhos aumenta ou diminui no auditório. Seu bastão é apenas um voto.

Carpenter não precisou explicar muito. Cada participante da conferência de especialistas em computação gráfica de 1991 foi, provavelmente, viciado em Pong algum dia. Sua voz amplificada ressoa no salão: “Ok caras. O pessoal no lado esquerdo do auditório controla a raquete para a esquerda. O pessoal no lado direito, a raquete direita. Se você acha que está na esquerda, então você realmente está. Ok? Vai! ”

O público vibra de alegria. Sem hesitar, cinco mil pessoas estão numa partida razoavelmente boa de Pong. Cada movimento da raquete é a média de vários milhares de intenções dos jogadores. A sensação é enervante. A raquete geralmente faz o que você pretende, mas nem sempre. Quando não acontece, você se vê gastando tanta energia jogando quanto tentando prever a bola recebida. Um é definitivamente ciente da inteligência do outro online: é uma multidão aos gritos.

Esses quatro parágrafos são de Out of Control, livro de Kevin Kelly que se tornou um dos marcos iniciais da cultura da web. Kelly é um dos fundadores da Wired, um formulador que ajudou a organizar o caldo de cultura que misturou hippies, engenheiros, autores e artistas experimentais, ancorando a noção de cibercultura à ideia do experimentalismo dos anos 60 e ao hobby computacional dos anos 70 e 80. Não seria exagero dizer que Out of Control é uma das obras que inspiraram a teoria da Singularidade, e é sempre curioso lembrar que o livro foi uma das obras que os irmãos Wachowski assumem como centrais à construção do universo de Matrix.

Em Out of Control, Kelly acena com um certo entusiasmo por uma noção de consciência holística vitaminada por novos dispositivos de comunicação e informação. Uma crença no poder de uma multidão redimida a partir de um grande filtro tecnológico, um motor que ajudaria a tornar o grande sentido das ações de todo mundo uma coisa boa. Ele chama esse conceito de “hive mind” (em português, algo como “mente de colmeia”), uma noção que defenderia basicamente que todos estamos no mesmo barco, e que no fundo gostaríamos todos de remar pro mesmo lado. Faltaria apenas o software pra organizar isso tudo – uma vez organizado, a geração de riqueza e bem estar e tecnologia floresceriam em progressão geométrica, e nem perceberíamos que a coisa estaria rolando.

A proposta de Kelly ancora à observação de fenômenos naturais a noção de uma grande consciência universal, e é cheia de paralelos entre iniciativas colaborativas mediadas por tecnologia e o comportamento coletivo de insetos e animais. Para Kelly, há um certo padrão maior a emergir da constante negociação entre os indivíduos de uma comunidade, um fenômeno que poderia ser acelerado/modulado por dispositivos tecnológicos, alcançando sua plenitude apenas em espaços de liberdade total e irrestrita. A partida gigante de ping-pong seria, essencialmente, como experimentar com dinâmicas de interação entre livre mercado e tecnologia dentro de um tubo de ensaio.

É difícil não concordar que a ideia oferecida por Kelly é bastante sedutora. Um universo de invenções e riqueza brotando das dinâmicas de interação entre todo mundo, como subproduto de um novo e gigantesco tipo de organismo híbrido formado por homens e máquinas. A partir da implementação dos tipos certos de software e hardware, a humanidade poderia deixar para as máquinas o trabalho pesado e as decisões complicadas, bastaria reduzir as regras ao mínimo e deixar as pessoas fazerem o que achassem que deveriam fazer.

Um pouco do joystick-caixa de comentários do Twitch Plays Pokemon (Imagem reproduzida do Dorkly.com)

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O determinismo tecnológico abraçado por Kevin Kelly foi extremamente influente na formulação do que viria a se desenhar como a cibercultura (vale lembrar que, em sua obra, Kelly atua essencialmente como porta-voz de um programa construído ao longo das décadas passadas por coletivos experimentais e grupos técnicos). A noção de trabalho-colaborativo-horizontal-mediado-por-máquinas veio a se confundir com a própria noção do que seria entendido como ação cibercultural ou ativismo digital – o que, hoje, poderia ser verificado na dificuldade encontrada para situar politicamente não poucas iniciativas que se dizem associadas à cibercultura.

Disso tudo, surge uma questão que vai além da tentativa de, na marra, associar processos naturais a uma mecanização lógica que poderia ser emulada por softwares: a questão sobre como seriam entendidos os processos políticos nesse novo ecossistema, e como não existiria, em algum sentido, uma tentativa de terceirizar para as máquinas a política – um fenômeno que, para o crítico Evgeny Morozov, poderia ser chamado de “solucionismo”.

Morozov é um sujeito controverso, mas sua proposta crítica tem um ponto. A partir da ideia do solucionismo, ele lança ao debate algum ceticismo à noção de que a solução de problemas diversos da humanidade estaria no fim do arco arco-íris, num pote cheio de softwares e ferramentas de comunicação. Tipo, “Problemas de peso? Um app para emagrecimento deve dar um jeito”; “Crise na representação e participação política? Alguma plataforma colaborativa para levantamento e tabulação automática de informações cidadãs resolve.”

Em sua crítica central, o solucionismo busca recolocar em discussão as relações de poder, reafirmando-as como motor de esferas entrelaçadas da sociedade e da cultura, e permanentemente transformadas numa dinâmica de tensões e negociações. Por mais que um app possa facilitar a vida de profissionais atarefados e automatizar processos da burocracia pública, sua criação, implementação, uso e efeitos são parte de uma cadeia política e econômica que influencia desde o funcionamento do código de programação (por conta do resultado das políticas de trabalho para os programadores de uma determinada startup, por exemplo) até o preço do café em alguns bairros da cidade (como no caso de São Francisco, que tem passado por um processo avassalador de gentrificação por conta do dinheiro catalizado por empresas de tecnologia). No fundo, é uma ideia que tem a ver com a noção de que coisas como os relacionamentos, a vida do dia a dia, a cultura e a política são fenômenos não exatamente passíveis de terceirização ou modulação via máquinas e softwares. O que coloca na mesa, também, a dúvida sobre o projeto de uma nova era de boas novas à experiência humana através de um tipo de determinismo tecnológico supersônico.

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Alguns dias após seu início, o jogo coletivo de Pokemon mudou suas regras. Além das variáveis básicas ao comando da partida, seu criador passou a oferecer ao público o comando sobre dois novos parâmetros: democracia ou anarquia.

A motivação, especula-se, teria a ver com uma espécie de amortecedor que neutralizasse a ação de trolls (quando o jogo virou notícia, não poucos jogadores começaram a entrar na partida apenas para agir como uma força disruptora, enviando comandos sem muito sentido pra travar seu andamento). Pelas novas regras, a coisa funcionaria a partir de duas possibilidades. Na anarquia, o jogo processa mais ou menos automaticamente o universo de comandos, e se um monte de gente mandar o personagem ir pra direita e pra esquerda e soltar um pokemon e mudar de ideia, ele talvez faça algo disso ou talvez rode em círculos. Pela via democrática, todo mundo vota no comando que ofereceria o melhor destino pro protagonista da partida e, após alguns segundos, o jogo computa o total dos votos e o personagem toma a ação decidida pela maioria.

Pode parecer quase a mesma coisa, mas o funcionamento dos dois mecanismos oferece percepções bastante distintas sobre o funcionamento do jogo. Na anarquia, você apenas insere comandos tentando ajudar e torce para que algo se manifeste da coisa toda. Na democracia, há uma nova dinâmica – todos veem quais seriam os movimentos preferidos e os que não seriam tão populares para a próxima rodada, o que, em tese, poderia ajudar os jogadores a pensar em seus comandos de modo que pudessem colaborar com alguma possibilidade real de organizar o rumo da partida. Por exemplo, você poderia achar que mandar o personagem andar pra cima no mapa seria a melhor solução, mas, ao ver os votos computados, perceberia que ir pra direita tem uma boa possibilidade de se dar bem na próxima rodada, e que talvez valesse a pena apostar num voto útil.

Agora, aqui fica a pegadinha: a decisão sobre o sistema político do jogo, se é anarquia ou democracia, fica também a cargo dos jogadores, funcionando no mesmo nível dos outros comandos. O que, na prática, significa que um comando “botão b” tem o mesmo peso de um voto “democracia” (o sistema de votação é inclusive o mesmo, basta inserir “anarquia” ou “democracia” em inglês na caixa de comentários). O maior número de votos a favor de um ou outro sistema vai empurrando uma espécie de termostato político na tela do jogo para um lado ou para o outro, definindo seu andamento.

É interessante pensar que, com esse salto no funcionamento do jogo, novos participantes talvez tenham começado a participar da partida apenas para inserir comandos tentando transformar o regime político do universo pokemon (pelo menos um conhecido meu disse ter entrado na partida só para votar na anarquia por um tempo). Do mesmo modo, é bem louco ver, a partir daí, a possibilidade de uma partida de Pokemon dividida entre níveis distintos de jogadores: os que ficariam mandando o personagem andar ou apertar botões; os que ficariam mandando votos a favor de alguma das possibilidades de arranjo político; e, quem sabe, um terceiro tipo de jogador, que trabalharia nas ações do jogo ao mesmo tempo em que tenta orientar o projeto político da partida para um lado ou para o outro. São muitos os possíveis arranjos e estratégias.

Ao final, a grande partida de Pokemon talvez se desenhe essencialmente como um grande experimento político. Por mais animador e reconfortante que seja o determinismo tecnológico e seu projeto de deixar para as máquinas algumas partes chatas e desconfortáveis da experiência humana, o universo de relações simbólicas e estruturais presentes na construção do código de computador (e na sua sedimentação como rede comunicacional, e como linguagem, e como espaço de produção de informação e riqueza) talvez tenha um tanto de dificuldade para transcender a lógica de conflitos e mediações gravadas no firmware humano. Ao sugerir uma automatização dos processos comunitários que construiriam a prática política, o Twitch Plays Pokemon pode, ao fim, ter criado uma arena que jogaria com a complexidade das experiências políticas e da utopia junto ao seu público – mais que automatizando, criando questões através da máquina.

De todo modo, eu vou lá votar de novo na democracia, só pra garantir.

Enfim, a partida de Twitch Plays Pokemon

Na gameficação, quem trabalha é você

por Rafael Evangelista em 10 de fevereiro de 2014, Comentários desativados em Na gameficação, quem trabalha é você

Gameficação é uma palavra que virou meio moda e que serve para marcar diversas iniciativas que fazem uso de componentes presentes em jogos para deixar legais algumas coisas chatas. Newsgames, por exemplo, seriam a criação de gráficos e elementos interativos que permitiriam um maior envolvimento do leitor na fruição de uma notícia. Aplicativos bem comuns como o Foursquare, tem elementos jogáveis, como aquelas tacinhas idiotas e o título de “prefeito” que você ganha por fazer check-ins sucessivos em alguns lugares.

Mas, amigos, no fim do ano o Google introduziu um joguinho de Android que deixou a parada meio séria.

O Ingress junta um mapa real das cidades, com as ruas, endereços e pontos turísticos e de lazer, com uma dimensão paralela jogável. Você interage nessa dimensão jogável, só que andando fisicamente pela cidade com seu celular e seu GPS ativados. As informações que você insere, contudo, “funcionam” no mundo real, são aproveitadas por outros aplicativos Google.

O enredo da brincadeira é mais ou menos assim. Tem uma energia ALIENígena pela Terra e a humanidade se dividiu em dois grupos: os enlighted (doravante denominados illuminati, pelo óbvio motivo de ser mais legal); e os resistance, a resistência. Os illuminati acham que essa energia pode ser uma boa e abraçam seu uso. A resistência é mais desconfiada e mandou um ~fora haoles~ para os aliens, combate a energia. Na verdade, essa história é um pretexto para dividir os jogadores em dois grupos e colocá-los em disputa.

A briga é em torno do domínio de “portais”, que são pontos turísticos da cidade, murais, grafites, bibliotecas, estações de ônibus e trem etc. Você bate uma foto e sugere que tal ponto seja um portal. O povo do Google aprova e aquele portal se torna disponível como neutro. A equipe que chegar primeiro, fisicamente, a esse portal passa a controlá-lo. À outra equipe resta fazer ataques periódicos a esse portal (também aproximando-se fisicamente) tentando dominá-lo – o que se resolve de acordo com a pontuação dos jogadores e o número de ataques, numa dinâmica de RPG.

Onde está o truque? Bom, com isso você passa a fazer check-ins frequentemente em vários pontos da cidade, check-ins que não faz no Foursquare, por exemplo, porque a gameficação ali é leve. Confira comigo o que diz esse analista sobre  o gás que o Ingress pode dar nos check-ins by Google:

“Embora os esforços anteriores do Google em serviços similares de check-in (como Latitude, e talvez o Hotpot) tenham sido abortados, Ingress é praticamente um gigante serviço de check-in. É um serviço de check-in em velocidade. No Foursquare o aspecto jogável é muito discreto (para não dizer que eles parecem estar se afastando dos elementos jogáveis), Ingress é um serviço de check-in que abraçou totalmente a ideia de competição entre os seus membros.”

Interessante ainda é a possível relação que o jogo pode estabelecer com alguns estabelecimentos comerciais. Mediante acordo financeiro, certas lojas poderiam se tornar portais, o que pode levar a um fluxo de pessoas a esses pontos. Estariam interessados no jogo, mas possíveis consumidores da loja.

“Ingress aparentemente semeou aproximadamente todos os 800 endereços da Jamba Juice [loja de sucos] como Portais. A não ser que você já tenha jogado o jogo, você pode não ver a implicação – este jogo realmente está dirigindo tráfego dos pedestres para lojas físicas de concreto!

Isso não é somente a construção de uma marca, isso aumenta a consciência da localização das lojas, assim como dirige tráfego real a elas.”

Na última semana, o Ingress adicionou uma nova modalidade de portal que retrata bem o objetivo de usar os jogadores como possíveis mapeadores de pontos turísticos ou de interesse. Isso aqui veio no último informe semanal do Ingress para os “agentes”.

“Então, o que se qualifica como um #PortalGem? É que o Portal que você anda até ele e diz: “Uau, eu nunca soube que existia isso aqui!” Ou “Essa descrição contém um fato muito legal e interessante que eu teria perdido se não fosse um Portal.” Para enviar uma #PortalGem poste uma foto, uma breve descrição e a localização de seu candidato a Portal no Google+. Certifique-se que a postagem é público e marque-o como #PortalGem e +NIAOps.”

Percebam que essa nova modalidade de Portal está especificamente voltada para mineração de um conhecimento que somente algum morador do local poderia ter. E, na dinâmica jogo, sugerir portais é uma ótima vantagem, pois os novos são mais fáceis de serem controlados.

Ou seja, você está lá jogando mas, ao mesmo tempo, também está: inserindo fotos e geolocalização de pontos turísticos a serem incorporados pelos serviços Google; repassando informações sobre fluxo em determinados pontos da cidade (eu, por exemplo, tenho atacado diversos portais que ficam no caminho entre meu trabalho e minha casa); e se torna alvo de uma publicidade muito bem focada e com alto potencial de retorno.

Aí vocês falam: “putz, Rafael, você também é chato pra cacete, é só um jogo inocente, os dados que eles utilizam são só uma contrapartida pela diversão que oferecem”. Pode ser, é natural pensar assim. Mas o ponto não é somente o jogo em si, é como o capitalismo informacional desse nosso tempo está se estruturando em esquemas como esse, em que a atividade (intelectual, os relacionamentos, o deslocamento físico) dos usuários dos sistemas são a força principal, a energia base, a partir da qual as empresas se valorizam e acumulam riquezas que, como sabemos, não vem do nada, são fruto de algum tipo de apropriação na ponta da cadeia.

Além disso, o debate sobre trabalho e diversão é extremamente atual. Todos queremos que nossos trabalhos sejam leves, fazer o que se gosta virou uma espécie de mantra para a geração que hoje entra no mercado de trabalho. Problema, resumindo, é que: nem todos podemos escolher nossos trabalhos tão livremente, isso normalmente é privilégio de uma classe; num trabalho “divertido”, em que aquilo “nem parece trabalho”, a relação trabalhista existente acaba nublada, o que é uma delícia para o patrão, que conta com uma força de trabalho que não se vê como trabalhadora mas “cumprindo uma missão de vida”. Porém, isso já é um assunto paralelo, embora tenha a ver com o tema do post. Então melhor recomendar dois textos sobre isso: este, em inglês, que trouxe o assunto à tona; e este, em português, que adicionou outra reflexão ao artigo original.

Ah… e no Ingress você me encontra com o user @ronniejamesdio e jogando pelos Illuminati 🙂

Como enriquecer fazendo filantropia (o truque mais antigo do manual)

por Rafael Evangelista em 13 de janeiro de 2014, Comentários desativados em Como enriquecer fazendo filantropia (o truque mais antigo do manual)

Quando o tio Bill anunciou que daria um tempo como super comandante em chefe da Microsoft e se dedicaria a fazer o bem ajudando o povo da África você, cidadão de alma pura, logo pensou: “veja só, até que o mundo tem jeito, parou com a ganância e foi ajudar o próximo, que nerd gente boa!”.

Pois bem, problema é que as “boas intenções” e a grana da Fundação Bill e Melinda Gates estão sufocando o agricultor tradicional e ajudando grande empresas de fertilizantes, rações e suprimentos agrícolas em geral a expandirem seus negócios na África. Para poderem vender frangos “padrão KFC”, cada vez mais demandados pela classe média sul-africana (crescente em termos quantitativos e de peso), os agricultores estão sendo levados, via subsídios da Fundação Gates, a serem um elo na “cadeia de valor”, algo que ajuda a fortalecer a soja e variedades industrializadas de milho no continente.

O dinheiro gira, gira, gira mas quem ganha de verdade é a indústria dos EUA. “Como Bill Gates está ajudando a KFC a tomar a África de assalto”, escreve a Mother Jones.

“Para crescer, a KFC e outras marcas de fast food requerem um fornecimento estável de frango que atenda seus padrões específicos. Isso pode ser uma tarefa difícil para os pequenos produtores de frango da África. Em Gana, por exemplo, as galinhas locais não atendem às demandas da empresa por qualidade. O Wall Street Journal informou recentemente que, para a KFC, os agricultores de Gana não são “profissionais o suficiente”, o que obrigaria os proprietários das franquias a comprar produtos importados caros.

Mas onde os pequenos agricultores estão devendo, os grandes produtores de frango da África estão tendo sucesso. Eles estão demandando mais e mais rações de alta proteína, especialmente baseadas em soja. A Agência dos EUA para o Desenvolvimento Internacional (USaid) e a Fundação Gates vêem isso como uma oportunidade para os pequenos agricultores se eles puderem ser convencidos a adotar novas culturas agrícolas. Para fazer isso, a USAID e Gates estão bancando empresas para construir o que os especialistas chamam de relações de negócios entre “cadeias de valor” que ligam os pequenos agricultores e os vendedores de insumos agrícolas (como fertilizantes), de um lado, e grandes compradores de milho e soja do outro. Esses compradores transformam esses produtos em ração e, em seguida, os vendem para grandes atacadistas de frango, que estão apostando seu futuro crescimento no fornecimento para a expansão africana da KFC”.

A coisa com a Fundação Gates na África cheira mal faz um tempo, já alertavam organizações políticas internacionais mais escoladas em lidar com bilionários e suas instituições filantrópicas. Peguem um trecho de texto que escrevi lá em 2007, que dava conta das ligações de Gates com o lobby pró-trangênicos e das grandes indústrias de alimentos. Foi publicado na Revista Fórum:

Primeiro foi Robert Horsch que deixou, no ano passado, a vice-presidência de parcerias internacionais da Monsanto para se dedicar a projetos da Fundação Bill & Melinda Gates na África. Em março, foi a vez de Lawrence Kent juntar-se ao time, deixando a diretoria de programas internacionais do Donald Danforth Plant Science Center, instituto de pesquisa fundado e mantido com verbas da Monsanto. Sob os auspícios da mais rica fundação filantrópica do mundo, ambos devem continuar insistindo na iniciativa que os notabilizou nos últimos anos: a tentativa de introdução de transgênicos no continente africano.

(…)

Questionada pelo jornal Seattle Times, em 17 de outubro de 2006, sobre se está passando a advogar pelas sementes geneticamente modificadas, a Fundação responde apenas que “quer perseguir qualquer opção que possa levar a atingir seu objetivo de aumentar a produtividade agrícola em países pobres”. A lista de novos funcionários ajuda a corroborar a idéia de que a biotecnologia é, para os Gates, a escolha da vez. Ela inclui, além dos ex-Monsanto, o ex-presidente da Alta Genetics, uma empresa canadense de biotecnologia, (a maior em inseminação artificial bovina do mundo), e o ex-diretor de pesquisas da gigante farmacêutica GlaxoSmithKline.

Sim, amigos, capitalismo e suas relações para o alto e avante.

algum dos amigos teria vindo do futuro?

por T. C. Soares em 6 de janeiro de 2014, Comentários desativados em algum dos amigos teria vindo do futuro?

Cientistas vasculharam a web atrás de internautas viajantes do tempo.

(…) Físicos buscaram na internet do presente mensagens prevendo eventos futuros, esmiuçando Twitter, Facebook, Google, Google+ e Bing. Eles usaram esses serviços para verificar se alguém teria mencionado o Papa Francisco ou o cometa ISON antes desses termos existirem, analisando (o acervo da web durante) o período entre o início dos 2000 e meados de 2013. A idéia era que ambos os termos representariam grandes eventos sobre os quais viajantes do futuro se interessariam em conversar com alguém online. Mas nada foi encontrado.

Isso não significa que viajantes do tempo não existam, diz o autor do estudo, Robert Nemiroff, um físico da Michigan Technological University. De todo modo, esse é o maior estudo do tipo já realizado, e sugere que se há viajantes do tempo entre nós eles não estariam tuitando sobre o que teriam visto no futuro, afirmou Nemiroff.

Essa não é a primeira vez que alguém investiga provas da existência de viajantes do tempo. Stephen Hawking, por exemplo, deu uma festa para viajantes do tempo em julho de 2012, e só enviou os convites depois. Infelizmente, ninguém apareceu.

Caso não esteja 100% convencido, o estudo pode ser lido no arXiv.org.

(Da Popular Science)

don’t be (an) evil (robot)

por Rafael Evangelista em 23 de dezembro de 2013, um comentário

Dias desses rolou o comentário acima na minha timeline do twitter, altamente retuitado. E pra além da galhofa ele sinaliza duas coisas acontecendo com o Google: um aprofundamento da investida em um futuro singularista kurzweiliano (já explico); rachaduras na imagem pública de empresa boazinha da empresa, quase impensável há alguns poucos anos.

Singularismo kurzweiliano: Ray Kurzweil, recentemente contratado pelo Google, é o principal ideólogo de uma corrente do transhumanismo chamada de Singularidade, que basicamente crê (ou prevê), um futuro em que aconteceria uma fusão entre homens e máquinas tão radicalmente significativa que seria literalmente um salto evolutivo da humanidade. Sim, no sentido darwiniano, ou seja: macaco -> homem -> robô (desculpa aí a super-simplificação, amigos biólogos).

Não que o Google esteja passando por algum tipo de ruptura do tipo “era bonzinho no passado mas traiu o movimento e se vendeu pro grande capital”. Neste texto aqui exploro mais longamente as relações ideológicas que vejo entre essa galera do Vale do Silício e os singularistas.

A questão é que a Singularidade de Kurzweil passaria por três campos principais: a biotecnologia, a inteligência artificial e a nanotecnologia. O investimento nessas áreas seria mais do que a produção de um futuro desejável – na visão deles -, uma utopia tecnológica em que quase todos os problemas humanos seriam resolvidos (meio ambiente, racismo, intolerância, doenças). Seria uma oportunidade de negócios.

Pois bem, o Google adquiriu agora a Boston Dynamics e, rapaz, a Boston Dynamics faz coisas assustadoras viu. Digo, procurem por vídeos dos robôs feitos por eles. Impressionam, sim, pelo grau de avanço mas, principalmente, porque a Boston tem entre seus principais clientes o setor militar. Ou seja, são robôs parrudos, feitos para andar em campos de batalha bastante inóspitos. E são robôs fortes e grandes, sim como os do Exterminador do Futuro mesmo.

Aparece então uma contradição interessante com a história criativa do Vale do Silício. O financiamento militar foi algo que uma primeira geração — mais hippie, mas altamente influente — rejeitou muito. Colaborar com os militares era o exato contrário do que desejava um movimento que tinha como uma de suas bases a rejeição das hierarquias e do poder. Porém, como se sabe, as gerações nerd-hippies seguintes não se mostraram tão firmes assim na rejeição ao militarismo e, principalmente, da ganância.

A aquisição da Boston Dynamics talvez sirva para marcar que, hoje, o Vale do Silício tenha mais a ver com esse futurismo acelerado do Kurzweil do que com a imagem de hippie paz e amor que eles buscaram projetar. Ou pelo menos que não há, na cabeça deles quando repousada no travesseiro, contradição nisso tudo.

Usando a Boton Dynamics como gancho, os amigos do CubaDebate (¡Hasta la victoria siempre!), baseados num analista do The Motly Fool (vejam a ironia), mandaram uma lista do que seriam os… PASSOS PARA O DOMÍNIO GLOBAL. Vou manter em castellano, que é mais massa e vocês entendem.

1. Control sobre el flujo de información
O buscador, basicamente, e todas as informações sobre nós que ele captura

2. Control sobre el acceso a la información
Também o buscador, mas também o Android – hoje dominante nos celulares – e o Google Glass

3. Control sobre el transporte
As experiências com carros automáticos, sem motoristas

4. Control del mercado de labor física
Aqui a coisa fica mais interessante, porque não é só ver os robôs fazendo guerra mimimi, significa vê-los substituindo a força de trabalho.

Boston Dynamics, que ha sido la octava empresa que Google ha adquirido este año, es famosa por crear los robots más avanzados del planeta. Aunque lo único que por el momento estas máquinas saben hacer es andar y correr igual que personas y animales, de igual manera algún dían podrán aprender a hacer otras tareas, como preparar una cena perfecta, por ejemplo. “Poco a poco los robots se ocuparán de toda labor física, dejando la intelectual a los humanos. Es ahí donde Google “será implantado en la infraestructura económica mundial”, señala Planes.5. Control sobre la vida en sí

5. Control sobre la vida en sí
Aqui vejo os olhinhos do Kurzweil brilhando. Biotec:

En septiembre Google anunció la fundación de Calico, una empresa que se dedicará a la investigación del envejecimiento, la longevidad y la búsqueda de maneras de aumentar la duración de la vida. “Todas las ambiciones son pálidas en comparación con esta”, dice Planes. “Con esta solución en las manos, Google controlará no solo tu acceso a la información, sino también cuánto tiempo podrás vivir para acceder a la misma”.

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E vamos com uma cereja nesse bolo. Em casa (San Francisco), as coisas não estão bem. O hype em torno do Vale do Silício significou um baita processo de gentrificação na área. Todo aspirante a Steve Jobs-Larry Page busca estar na região para fazer contatos e vender seu peixe. Resultado: os aluguéis subiram e continuam subindo e tem muita gente boa – e com um jeito alternativo de viver muito mais tradicional – sendo expulsa da região.

Pra se ter uma ideia, dia desse o Cory Doctorow (outro guru do Vale) retuitou o seguinte, vindo do Boing Boing: um dormitório coletivo para ~hackers~ em San Francisco por “meros” mil doletas por mês.

https://twitter.com/BoingBoing/status/414579079883395072

No último dia 20 alguns locais mais radicais chegaram a parar um ônibus que levava funcionários do Google para seu ~QG~ para protestar contra gentrificação (mas também contra o rompimento de um estilo de vida mais sossegado). Quebraram o vidro do ônibus e estenderam faixas com frases gentis como GOOGLE FUCK OFF e, a mais divertida, TECHIES: Your World Is Not Welcome Here. Choque cultural, amigos.

minha privacidade pela sua propriedade intelectual, topa?

por Rafael Evangelista em 8 de novembro de 2013, Comentários desativados em minha privacidade pela sua propriedade intelectual, topa?

A dica vem do tuíter no @evgenymorozov (que diz que o texto nem é tão bom – verdade – mas ressalta o papel da “Internet” na narrativa do texto, que é naturalizada, vira uma força da inexplicável natureza ).

Começa assim (Privacy Isn’t a Right, na Slate):

A privacidade não é mais um direito. Nós a vendemos por fotos de gatinhos e pela possibilidade de dizer a todos do mundo do mundo livre o que comemos no café da manhã.

Não também estou dizendo que é uma troca ruim. A internet como a conhecemos aconteceu pela monetização da informação-metadados sobre nós – em lugar de replicar o modelo tradicional de venda de conteúdo. Como resultado a internet explodiu numa pletora de serviços úteis e plataformas em todos os formatos e tamanhos. Mais ainda,  foi uma igualadora – ninguém tem informação pessoal que vale mais do que a de outros, assim todo mundo foi capaz de trocá-la pelo mesmo tipo de serviço.

O problema nisso tudo é que privacidade é uma noção da qual se abdica no momentos em que você aperta “concordo” no acordo de serviços que você não leu. E, apesar de os consumidores não terem percebido isso, seus dados deixaram o restaurante e lhes sobrou a conta.

Bom, é difícil conseguir estar tão certo e ao mesmo tempo tão errado como Josh Klein. O problema – do texto inteiro – é o excesso de simplificação e a visão de indivíduo consumidor contida no artigo todo – além de colocar a internet como força da natureza, como bem nota o Morozov.

Por que ele está em parte certo? Porque o raciocínio de que a informação sobre o usuário – individulizada ou usada coletivamente como metadado – é a força motora, o combustível mesmo, desse capitalismo internético é bem forte. Não é exatamente nova, um monte de autores já trabalharam sobre isso, mas é interessante que seja colocada claramente, dessa forma, com exemplos bobinhos mas palpáveis. O texto é uma versão resumida do livro Reputation Economics, que tem toda cara de ser aquela literatura de aeroporto mal-fantasiada de cabeçuda.

Mas está muito errado em trezentos outros pontos, a começar por descartar isso que ele chama de privacidade como um direito. Primeiro porque dizer que a foto do café da manha que você mete no instagran é algo privado é complicado. Por um lado, sim, se sou uma pessoa muito restrita, apenas adiciono meia dúzia de conhecidos nas minhas redes e google/microsoft/facebook usam essa informação nos metadados que eles vendem por aí ok. Mas a maioria das pessoas tem uma rede ampliada de contatos e a foto do café da manhã serve, concretamente, como indicação de um determinado serviço. É o mesmo quando coloco o vídeo de uma banda que gosto, e que poucos conhecem, e os conectados comigo vão lá pesquisar sobre a banda. Nesse momento a rede social não funciona só para relacionamentos pessoais, ela é como uma revista que te indica um filme, um livro ou um show. E aí, meus caros, não é a minha privacidade que foi pro mercadão, é minha “propriedade intelectual”.

Vamos dimensionar isso? É fácil dizer que “a privacidade está morta”, como tem sido repetido exaustivamente por aí, até mesmo por gente que busca resgatá-la como direito. Muito mais incomum é você ler que “a propriedade intelectual está morta”. E seria um jogo bem massa de se jogar, eu topo tornar a propriedade intelectual um bem comum. Que tal?

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Vale destacar ainda dois méritos do texto do Klein.

Um é que ele aponta, lá no final, para uma possível “renegociação” dessa relação entre sites e usuários, de modo que as grandes empresas de internet ofereçam mais em troca do que obtém. É uma pena que a coisa é colocada sempre do ponto de vista do consumidor individualizado, que deveria, segundo ele, tornar mais difícil o acesso a seus dados, usando de VPNs e criptografia, para que as empresas subam o “preço” pago. Seria bem mais interessante entender isso como direito e como produção coletiva, apontando para mudanças nas relações sociais que efetivamente reconheçam isso.

Outro mérito são exemplos de patentes de modelos de negócio/tecnologias que ele dá. Um par delas, da Microsoft:

“Vejamos um par de patentes que a Microsoft pediu alguns anos atrás. Descrevendo genericamente, a primeira permite que a companhia coloque um número na habilidade de qualquer identidade [pessoa] em influenciar os outros em determinado tópico. Então, para a palavra queijo você pode ter um score de 88, porque você mantém um blog popular sobre queijos. Ao mesmo tempo, eu posso ser intolerante à lactose e ter um score de 17. A segunda patente é mais interessante, ela permite que a Microsoft coloque, dinamicamente, preços em serviços ou bens baseando-se naquele seu score.

Isso significa que, se você vai comprar um queijo online a Microsoft pode perguntar à Kraft se ela quer te dar um grande desconto no queijo, esperando que você faça uma boa resenha sobre os queijos dela e que as vendas subam. Do mesmo modo, se eu quero comprar queijo ela pode perguntar à Kraft se quer jogar o preço lá em cima, de modo que eu me sinta desestimulado a comprar, poupando-a de uma resenha potencialmente embaraçosa.”

Sacaram? É como aquelas banquinhas que dão um preço de acordo com o cliente. Mas numa versão muito mais anabolizada e complexa, com uma forte assimetria de informações entre comprador e vendedor e implicações éticas bem complexas.

escutando a wikipedia

por T. C. Soares em 1 de novembro de 2013, Comentários desativados em escutando a wikipedia

Há uns meses, falamos no PlanoB sobre um projeto que, desenvolvido por dois programadores, oferecia em tempo real um mapa das edições em verbetes da Wikipedia ao redor do mundo. Esses dias descobri que os mesmos desenvolvedores criaram, a partir de um cruzamento de metadados similar, um projeto derivado – agora, porém, baseado na expressão sonora da atividade de editores e editoras wikipedianos.

Chamada “Listen to Wikipedia” (em português, “Escute a Wikipédia”), a proposta é baseada num site que oferece, a cada nova edição ou cadastro, a modulação de uma nota diferente. O resultado é mais ou menos como música de meditação, e é muito massa.

Dá pra ouvir e ver aqui.

Listen_To_Wikipedia

 

Da The Verge.

olá skynet

por T. C. Soares em 16 de outubro de 2013, Comentários desativados em olá skynet

Os pesquisadores das Forças Armadas dos Estados Unidos querem criar máquinas que atacam por vontade própria.

A ameaça que realmente deixa futuristas preocupados são os robôs letais autônomos — uma distinção fundamental que tem a ver com máquinas totalmente autônomas capazes de matar por conta própria, sem qualquer intervenção humana. Neste ponto, não há como dizer se esses robôs serão algum dia usados no campo de batalha; de todo modo, de acordo com um relatório do ex-analista de inteligência Joshua Foust publicado no Defense One este mês, isso seria algo que os EUA considerariam seriamente.

Segundo Foust, engenheiros e políticos trabalham no estudo e desenvolvimento de drones cada vez mais autônomos, que poderiam, eventualmente, lançar um míssil contra um alvo a partir de sua própria percepção. Enquanto essa tecnologia ainda não existe, os avanços na inteligência artificial sugerem que é apenas uma questão de quando — e não se — a DARPA (a Agência de Projetos de Pesquisa Avançada de Defesa dos EUA) passará a trabalhar no desenvolvimento de máquinas inteligentes que imitam o cérebro humano. A idéia é que esses artefatos futuristas sejam não só capazes de aprender e pensar como um ser humano, mas que tomem decisões em tempo real, com base no que está acontecendo ao seu redor.

Certamente é algo que não tem como dar errado.

Via Motherboard.

a rede mundial de computadores quer se tornar mundial

por T. C. Soares em 12 de outubro de 2013, um comentário

As principais instituições de governança da Internet anunciaram o fim de relações exclusivas com o governo dos EUA.

Os diretores da ICANN, da Internet Engineering Task Force, do Internet Architecture Board, do World Wide Web Consortium, e da Internet Society, bem como todos os cinco registros regionais de endereços da Internet, se comprometeram a dar fim às suas associações ao governo dos EUA.

Em um comunicado, o grupo pediu a “aceleração da globalização das funções da ICANN (Corporação da Internet para Atribuição de Nomes e Números) e da IANA (sigla para Autoridade para Atribuição de Números da Internet) no sentido de um ambiente no qual todas as partes interessadas, incluindo todos os governos, participem em pé de igualdade”.

É uma mudança considerável em relação à situação atual, na qual o Departamento de Comércio dos EUA tem o poder de supervisionar a ICANN.

É difícil imaginar que essa movimentação aconteceria sem as revelações de Edward Snowden e toda a história a respeito da espionagem online de usuários e governos feita por países como EUA e Canadá. E é certo que esse redesenho das estruturas institucionais de governança dará um bom tanto de peso à conferência global sobre gestão da Internet a ser sediada no Brasil, em 2014.

Da Wired UK.