A Nigéria é uma das maiores economias africanas e com uma população similar à do Brasil. São mais de 130 milhões de usuários de Internet no país, que tem a terceira maior produção de filmes do mundo, a conhecida “Nollywood”. Obviamente, há diversas dificuldades, entre elas as desigualdades sociais, a falta de acesso à tecnologia e a baixa educação formal. Ao mesmo tempo, intensifica-se uma grande penetração das grandes Big Techs, que chegaram a pagar cerca de US$ 1 bilhão em impostos só em 2022.
Paul A. Obi, pesquisador do Departamento de Comunicação de Massa da Universidade Baze, em Abuja, capital da Nigéria, afirma haver um enorme contingente de pessoas que se envolvem em atividades de prosumo nas plataformas digitais. O termo designa uma atividade em que produção e consumo se fundem e o trabalho em redes sociais, como criadores de conteúdo e influenciadores, talvez seja a melhor expressão contemporânea.
É sobre esta característica que Obi considera que há pouca reflexão acadêmica – e também pouca preocupação estatística -, principalmente para compreender melhor como funciona uma das camadas do colonialismo digital em seu país. Os achados de pesquisa estão em artigo na Triple C: Communication, Capitalism & Critique, uma revista acadêmica editada por pesquisadores referência na área, como Christian Fuchs.
No contexto das plataformas digitais, o capitalismo prosumer também significaria trabalho não pago, ou seja, uma expropriação do trabalho humano por corporações do Vale do Silício, as quais são responsáveis por expandir o poder geopolítico do Norte sobre o Sul. Essa seria uma das faces do colonialismo digital, conceito trabalhado também por outros autores como Michael Kwet.
As plataformas estariam lucrando com a extração de dados, enquanto os trabalhadores ganham apenas uma pequena parte por meio da criação e manipulação de conteúdos com venda de anúncios. As políticas de Estado priorizam a taxação e não tanto o controle dos processos econômicos das Big Techs, consolidando uma política extrativista semelhante ao colonialismo histórico, agora de forma digitalizada. Segundo ele, “a África pós-colonial fica atrasada na negociação de poder dentro da dinâmica da economia política do capitalismo digital”, já que as relaçõesentre as empresas eo Estado nem sempre são vistas pelo prisma da exploração.
O artigo busca recolocar a questão do trabalho prosumer na ótica do colonialismo digital, fazendo uso de lentes decoloniais. Apontando ainda a necessidade de maior esforço empírico na área e faz relação com esforços semelhantes na América Latina e na Ásia, tendo o capitalismo de vigilância como pano de fundo.
Para ler o artigo: https://doi.org/10.31269/triplec.v22i1.1451
Esta nota faz parte do projeto “Inteligência Artificial e Capitalismo de Vigilância no Sul Global”, financiado pela Rede Latino-Americana de Estudos sobre Vigilância, Tecnologia e Sociedade e realizado pelo Labjor - Unicamp | Laboratório de Estudos Avançados em Jornalismo