Esta semana uma das pautas centrais sobre a relação entre poder e imprensa foi a descoberta de que o governo dos EUA teria espionado a Associated Press.
O Departamento de Justiça dos EUA secretamente obteve dois meses de registros telefônicos de repórteres e editores da Associated Press (AP), no que um alto executivo da cooperativa de imprensa chamou de “intrusão enorme e sem precedentes” na forma como as empresas de noticias organizam suas informações.
Os registros obtidos pelo Departamento de Justiça listam chamadas recebidas e efetuadas – bem como a duração de cada conversa – para os números de telefone pessoais e de trabalho de jornalistas, além de números gerais de escritório da AP em Nova York, Washington e Hartford, Connecticut, e o número principal da AP para seus jornalistas na Câmara dos Deputados, afirmam os advogados da companhia.
Ao todo, o governo apreendeu os registros de mais de vinte linhas telefônicas atribuídas à AP e seus jornalistas em abril e maio de 2012. O número exato de repórteres que usaram essas linhas telefônicas durante o período é desconhecido, mas mais de cem jornalistas trabalham em escritórios cujos registros telefônicos receberam grande variedade de histórias sobre o governo e outros assuntos.
A coisa nesses termos já parece meio errada. Mas tudo ganha mais intensidade se levarmos em consideração o depoimento de um ex-agente do FBI dado pouco mais de uma semana antes disso tudo vir à tona
Numa entrevista ainda investigando os atentados de Boston, o ex-agente do FBI Tim Clemente afirmou à CNN que essencialmente toda comunicação digital dos EUA estaria aberta ao escrutínio do governo. E mais que isso: cavando um pouco mais, daria pra afirmar até que a rede de telecomunicações dos EUA seria arquitetada pra facilitar esse trabalho todo. É o que fala um engenheiro sobre sua passagem por uma das principais companhias de telecomunicação dos Estados Unidos, a AT&T:
O ex-engenheiro da AT&T Mark Klein revelou que telecoms teriam construído uma rede especial que permite à Agência de Segurança Nacional (National Security Agency, ou NSA, na sigla em inglês) o acesso completo e irrestrito aos dados das chamadas telefônicas e ao conteúdo das comunicações de e-mail de todos seus clientes. Especificamente, Klein explicou que “a NSA criou, com a colaboração da AT&T, um sistema que ‘chupa’ todos os dados da internet e das chamadas telefônicas” e que “contrariamente à representação que o governo faz, de que seu programa de vigilância visaria terroristas no exterior, …grande parte dos dados enviados através da AT&T para a NSA seria puramente doméstica.” De todo modo, suas revelações surpreendentes foram ignoradas e, quando o Congresso retroativamente imunizou gigantes das telecomunicações por sua participação nos programas de espionagem ilegal de (George W.) Bush, as afirmações de Klein acabaram impedidas de ir a julgamento em tribunal.
Ainda bem que as telecoms só fazem isso em países tipo os Estados Unidos.