O fenômeno da globalização e financeirização econômica ajudou a desenvolver características dos processos de digitalização e plataformização: a aceleração, a predição de eventos e a necessidade inesgotável de expansão.

Imagem gerada por inteligência artificial generativa utilizando palavras-chave: financeirização, plataformização, big techs
É sobre isso que o pesquisador Edemilson Paraná lança algumas reflexões no artigo “Platform studies and the finance-technology nexus: For a ‘genetic approach’”, publicado na revista Platforms & Society. Ele é vinculado à Universidade de Tecnologia Lappeenranta-Lahti (LUT), na Finlândia. O artigo se baseia em sua pesquisa recente na América Latina sobre economia digital.
Por uma abordagem genética o autor se refere a uma investigação genealógica sobre o desenvolvimento das plataformas em relação às finanças, no sentido de inferir um “DNA compartilhado” entre as duas, na medida que evoluem juntas e até mesmo se espelham e se emulam em comportamentos específicos. “A financeirização e plataformização são uma forma de antecipar o futuro no presente”, escreve.
As finanças foram as primeiras a adotar as técnicas digitais. O mercado das bolsas de valores e seus comportamentos voláteis, na dimensão como são hoje, só são possíveis pelo desenvolvimento das redes cibernéticas. Paraná afirma que a platformização deve ser vista não apenas como um facilitador da convergência entre finanças e tecnologia mas como um produto de uma nova configuração desse relacionamento.
É nesse sentido que o autor defende que as redes digitais “mimetizam” o comportamento do mercado financeiro (e, talvez, vice-versa): especulativo, imediatista, desterritorializante e desregulamentado. Isso pode servir de gancho para compreender a dificuldade de se estabelecer padrões mínimos de regulação em temas como redes sociais e tecnologias de IA, que só funcionam a partir de fluxos de big data e de vigilância.
A aceleração informacional dos fluxos são o motor de uma rearticulação da produção, enquanto a circulação e o consumo, também cada vez mais acelerados, promovem uma descentralização técnico-operacional, ao mesmo tempo em que há uma crescente concentração econômica e política.
“Servindo como infraestruturas sociotécnicas, as plataformas atuam como condutores contemporâneos e prováveis futuros para esses processos, marcando uma mudança estratégica em direção à expansão da lógica capitalista para o digital por meio da privatização do conhecimento e da informação. Os estudos de plataforma ainda precisam abordar adequadamente essas dinâmicas.”
A proposta do autor para abordar o tema significa uma compreensão abrangente do nexo finanças-tecnologia. Mais especificamente, a respeito da teoria, propõe integrar as teorias de macroeconomia, sociologia e estudos de mídia. Do ponto de vista teórico, propõe investigar os modelos de negócios compartilhados como foco. Por fim, metodologicamente, defende a combinação de evidências qualitativas e métodos híbridos.
A sua conclusão é que a plataformização representa uma forma altamente avançada de capitalismo, onde a lógica imanente do capital é levada ao seu auge. Nisso, ele se contrapõe a ideias como a de que estamos vendo nascer um neofeudalismo.
Link para o artigo: https://doi.org/10.1177/29768624241286779